De projeções sobre início da vacinação a indecisões sobre a compra de determinados imunizantes, Planalto tem dificuldades para traçar um plano para vacinar a população contra a Covid-19.
Mulher segura frasco rotulado como de vacina contra Covid-19 em foto de ilustração. — Foto: REUTERS/Dado Ruvic
As vacinas para combater a Covid-19 avançaram rapidamente nas fases de testes em meados de 2020. Desde então, o Governo Federal vem mudando constantemente de postura em relação aos imunizantes produzidos por diferentes laboratórios.
Na medida em que a vacina produzida pelo laboratório AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford se tornava mais promissora, o governo concordou na compra de milhões de doses do imunizante.
Ainda considerada promissora, essa substância ainda vai passar por novos testes para verificar melhor sua eficácia, o que pode atrasar o cronograma. Hoje, a expectativa do governo é usar a vacina de Oxford a partir de fevereiro.
Ao longo do tempo, o presidente Jair Bolsonaro também entrou em embate direto com o governador de São Paulo, João Doria, sobre a vacina produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
E, mais recentemente, o Ministério da Saúde voltou atrás na decisão de não adquirir vacinas que exijam refrigeração em baixíssimas temperaturas e anunciou a compra de uma delas, a produzida pela Pfizer e BioNTech — imunizante que já começou a ser aplicado no Reino Unido.
Eduardo Pazuello e Jair Bolsonaro durante encontro em outubro — Foto: Reprodução
Dinheiro para vacina de Oxford
Em cerimônia no Planalto no dia 6 de agosto, o presidente Jair Bolsonaro assinou uma medida provisória que libera R$ 1,9 bilhão para viabilizar a produção de 100 milhões de doses da chamada “vacina de Oxford” contra o novo coronavírus. Em 3 de dezembro, o Senado aprovou a MP.
Na cerimônia, Bolsonaro previu o início da vacinação possivelmente entre dezembro e janeiro e criticou, sem citar nomes, a vacina adquirida pelo governador de São Paulo, João Doria.
“Talvez dezembro, janeiro, exista a possibilidade da vacina, e daí esse problema estará vencido, poucas semanas depois. O que é mais importante é que junto com esta vacina, diferente daquela outra que um governador acertou com outro país, venha a tecnologia para nós. Temos como dizer que fizemos o possível e o impossível para salvar vidas, apesar daqueles que teimam em dizer o contrário.”
Vacina não obrigatória
Ao ser abordado por uma mulher que se identificou como profissional da área de saúde no dia 31 de agosto, Bolsonaro disse: “ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina.”
“Pesquisas revelam que cerca de 90% dos brasileiros tomarão vacina contra a Covid-19. Assim, o governo federal estabeleceu parcerias e investirá pesado pela vacina. Porém o Brasil é uma democracia, o governo é liberal e seu Presidente não é um tirano”, diz a mensagem.
Iniciativa Covax
No dia 17 de setembro, o Brasil solicitou à Aliança Global de Vacinação (Gavi, na sigla em inglês) uma extensão no prazo para formalizar seu envolvimento na iniciativa Covax Facility, programa mundial para impulsionar o desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19. O prazo terminaria no dia seguinte.
Segundo um comunicado divulgado pela Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), o país estuda “criteriosamente” a participação na Covax e “segue em tratativas” com a Gavi.
Brasil na Covax
O governo federal anunciou, por volta das 21h30 do dia 18 de setembro, que “confirma a intenção” de aderir à Covax Facility, programa mundial para impulsionar o desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19. O prazo original para inscrição terminaria na meia-noite.
“A aquisição de uma vacina segura e eficaz é prioridade do governo federal”, disse o Planalto, em nota.
Compra de doses da CoronaVac
No dia 20 de outubro, o Ministério da Saúde anunciou em reunião com governadores que a União compraria 46 milhões de doses da CoronaVac, vacina contra Covid-19 do Instituto Butantan produzida em parceria com a empresa chinesa Sinovac.
A ideia era que governo federal editasse uma nova Medida Provisória para disponibilizar R$ 2,6 bilhões até janeiro.
A afirmação foi feita em resposta a uma seguidora na rede social que pediu a exoneração do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, no dia seguinte ao anúncio da intenção de compra da vacina da CoronaVac. “Bom dia presidente. Exonera Pazuelo urgente, ele está sendo cabo eleitoral do Doria. Ministro traíra”, escreveu a seguidora, referindo-se a João Doria (PSDB), governador do estado de São Paulo.
“Tudo será esclarecido ainda hoje. Não compraremos a vacina da China“, respondeu o presidente.
Depois, após o post de Bolsonaro, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, afirmou, que “não há intenção de compra de vacinas chinesas” contra a Covid-19.
Morte de voluntário da CoronaVac
Em resposta ao comentário de um usuário que perguntou se o Brasil compraria a vacina CoronaVac se a Anvisa atestasse a segurança do produto, no dia 10 de novembro, Bolsonaro comentou a suspensão dos testes do imunizante após a morte de um voluntário — que não estava relacionada à vacinação.
“Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha“, escreveu Bolsonaro.
‘Vacina ideal é termoestável’
No dia 1º de dezembro, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, disse que o plano de vacinação contra Covid-19, que ainda está em elaboração, tem como meta a adoção de imunizantes que sejam termoestáveis, ou seja, que não precisem de baixíssimas temperaturas de armazenamento, como ocorre com candidatas da Pfizer e da Moderna.
Vacina gratuita e não obrigatória
O presidente Jair Bolsonaro afirmou em uma rede social no dia 7 de dezembro que, se tiver certificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), uma vacina contra a Covid-19 será oferecida gratuitamente e de forma não obrigatória a toda a população. Ele não especificou se isso valerá para qualquer das vacinas em desenvolvimento.
“Em havendo certificação da Anvisa (orientações científicas e os preceitos legais), o governo brasileiro ofertará a vacina a toda a população de forma gratuita e não obrigatória”, escreveu Bolsonaro, que em seguida complementou: “Segundo o Ministério da Economia não faltarão recursos para que todos sejam atendidos“.
70 milhões de doses da Pfizer
Depois de dizer que o Brasil não tinha infraestrutura para armazenar vacinas que exigem temperaturas muito baixas, o governo mudou de postura no dia 8 de dezembro e anunciou a compra de 70 milhões de doses da vacina da Pfizer/BioNtech, a mesma que começou a ser aplicada no Reino Unido no mesmo dia.
Em audiência na Câmara, o presidente da Pfizer do Brasil disse que, se o Brasil fechar o acordo, a entrega pode começar em janeiro de forma gradativa, e que, até março, o laboratório poderá entregar doses para vacinar pelo menos 2 milhões de pessoas. Segundo ele, o laboratório poderá entregar as doses em caixas de gelo seco, que garantem a conservação por 30 dias a 70 graus negativos
Vacinação depois de fevereiro de 2021
“Se isso acontecer, nós só vamos ter registro efetivo da AstraZeneca no final de fevereiro, mesmo que tenham chegado as 15 milhões de doses em janeiro. A Anvisa seguirá dentro dos seus critérios técnicos. Com certeza, ela vai fazer o mais rápido possível”, explicou Pazuello.
Vacinação em dezembro
Um dia depois, em 9 de dezembro, o Ministério da Saúde informou que poderá haver vacinação contra a Covid-19 no Brasil ainda neste mês de dezembro, ou no início de janeiro de 2021, se a farmacêutica Pfizer conseguir uma autorização emergencial junto à Anvisa.
A vacinação em dezembro ou no início de janeiro, informou a pasta, seria em caráter emergencial e atenderia a uma pequena quantidade de pessoas.
Após a declaração do ministro, a Pfizer informou o seguinte: “Em nota, o Ministério da Saúde disse que o ministro Eduardo Pazuello afirma que se a Pfizer conseguir autorização emergencial junto à Anvisa e conseguir adiantar alguma entrega, o início da vacinação pode ser no fim de dezembro ou no início de janeiro de 2021. Mas isso seria em quantidades pequenas, de uso emergencial. Observando que a autorização emergencial depende da Anvisa e termos contratuais a serem definidos entre Ministério da Saúde , Pfizer e/ou qualquer laboratório.”
Por G 1