Para mim, o heptacampeão não entra no Top 5 dos melhores pilotos da F1. Entenda o porquê
Foto: Getty Images
Quem é o maior piloto da história da Fórmula 1? Esta é uma discussão que povoa sempre o imaginário do fã de automobilismo. Volta e meia vemos debates acalorados sobre o tema, torcedores em polvorosa, agressões gratuitas nas mídias sociais. No Brasil, em especial, a disputa geralmente fica polarizada entre dois pilotos: o tricampeão Ayrton Senna e o heptacampeão Michael Schumacher. É um tema bastante delicado, mas resolvi expor meu ponto de vista.
Antes de continuar, quero deixar claro que sempre vou respeitar as opiniões diferentes da minha. Afinal, não sou o dono da verdade. Para mim, Michael Schumacher não é o maior da história. Aliás, o alemão não entra no meu Top 5. Os cinco maiores da história, pra mim, são, na ordem: Ayrton Senna, Juan Manuel Fangio, Alain Prost, Jim Clark e Nelson Piquet. Schumi foi um piloto excepcional sim, mas, a meu ver, não o suficiente para superar os citados acima. E vou explicar o porquê.
Schumacher sofreu, mas ficou em oitavo no Japão para ser hexa em 2003 — Foto: Getty Images
Schumacher é detentor da maioria dos recordes absolutos da Fórmula 1: mais títulos, mais vitórias, mais pódios e mais melhores voltas. Para mim, dois motivos foram essenciais para isso: primeiro, a mudança de regulamento de 1993 para 1994, com a volta do reabastecimento e a mudança da dinâmica das corridas; e segundo, a entressafra de pilotos após a saída quase simultânea do Big 4 da Fórmula 1 (Ayrton Senna, Nelson Piquet, Alain Prost e Nigel Mansell).
Então vamos lá. Schumacher estreou na Fórmula 1 na metade da temporada de 1991 e correu até o fim de 1993 com o regulamento que não permitia o reabastecimento durante as corridas. A dinâmica das corridas exigia uma maior gestão do carro (era uma época em que as quebras eram muito frequentes), do volume de combustível e do desgaste dos pneus (em várias provas, dependendo da estratégia das equipes, os pilotos sequer faziam pit stops). Nesta época, o alemão era tido ainda como uma revelação, mas que ainda cometia muitos erros.
Schumacher foi o piloto que melhor se adaptou ao reabastecimento — Foto: Yuriko Nakao-Pool/Getty Images
Tudo mudou a partir de 1994. A adoção do reabastecimento passou a exigir velocidade pura dos pilotos durante toda a prova, já que o tanque dos carros não precisava estar totalmente cheio. E Schumacher foi o piloto que melhor se adaptou a isso (e especificamente em 1994, contava com um carro recheado de polêmicas; quem viveu aquele ano nos paddocks da F1 fala até hoje que o carro da Benetton estava totalmente fora do regulamento. Mas isso é assunto pra outro post).
Schumacher imprimiu seu estilo a partir dessa mudança nas regras. Lançou a estratégia das voltas rápidas antes da parada. Andava sempre no limite do desempenho do carro e chegou a ganhar corridas com pista seca fazendo quatro pit stops. Isso também ajuda a explicar o fracasso de seu retorno à Fórmula 1 pela Mercedes entre 2010 e 2012. Foi a fase em que a F1 aboliu o reabastecimento e a dinâmica de construção dos pneus era outra, com um desgaste muito mais pronunciado que no auge do heptacampeão. O resultado: apenas um pódio em três anos, no GP da Europa de 2012, e derrotas acachapantes para o compatriota Nico Rosberg. O retorno à F1 foi o maior erro da carreira do alemão.
Bernie Ecclestone com Coulthard, Schumacher, Hakkinen e Barrichello — Foto: Getty Images
O outro ponto que ajuda a explicar os números do alemão foi a entressafra de pilotos que a Fórmula 1 viveu entre os anos de 1995 e 2005. A era do Big 4 (Senna, Prost, Piquet e Mansell) acabou no fim de 1994, com a morte de Senna e a aposentadoria de Mansell. E os adversários que Schumacher enfrentou nem de longe chegam aos pés do nível dos pilotos das décadas anteriores da categoria. Vamos recapitular: o alemão perdeu títulos para o inglês Damon Hill, o canadense Jacques Villeneuve e para o finlandês Mika Hakkinen. Depois, ganhou cinco em sequência em anos que a Ferrari fez carros espetaculares (2001, 2002 e 2004) e em temporadas equilibradas em que os adversários se enrolaram (McLaren e Williams em 2003). A chegada da geração de Fernando Alonso à F1, muito superior à anterior, precipitou a primeira aposentadoria de Schumacher, em 2006.
Para mim, o grande mérito de Michael Schumacher na Fórmula 1 foi reerguer a Ferrari, uma equipe que estava há 21 anos sem títulos (de 1979 a 2000). O alemão montou uma equipe técnica invejável, capitaneada por Jean Todt e que tinha o inglês Ross Brawn e o sul-africano Rory Byrne como seus principais expoentes. Os carros vermelhos, que experimentaram a decadência nos anos 1980 e 1990, voltaram a ser dominantes na maior categoria do automobilismo. E o heptacampeão foi o grande responsável por todas as conquistas recentes do time de Maranello. Sem dúvidas, Schumacher foi o piloto que melhor entendeu a questão da estrutura e da estratégia na F1. Mas isso teve seu ponto negativo: o excesso de jogo de equipe, que gerou situações constrangedoras como a do infame GP da Áustria de 2002.
Um podio recheado de constrangimento: Schumacher e Barrichello no GP da Áustria de 2002 — Foto: Getty Images
Então, a meu ver, se analisarmos tudo isso, a meu ver Schumacher não merece entrar em um Top 5 histórico da Fórmula 1. É claro que seus números sempre vão ser lembrados, mas, para mim, uma eleição dessas não deve levar em conta apenas os resultados. Quesitos ainda mais importantes que os números são o talento natural, a importância na época na categoria, o impacto no mundo esportivo e, claro, o nível de seus adversários. Por tudo isso, considero Schumi abaixo do patamar de Senna, Fangio, Prost, Clark e Piquet. Mas é a minha opinião.
Perfil de Rafael Lopes no Blog Voando Baixo — Foto: Infoesporte
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