Vítima de bala perdida no Rio de Janeiro em 2009, Joselito Dantas ficou paraplégico
Joselito hoje trabalha com a produção de bonecos utilizando materiais recicláveisFoto: Vitor Feitosa/Portal T5
Com uma história de dor, fé e superação Joselito Dantas, Paraibano nascido na cidade de Sapé e hoje com 35 anos, ganha a vida como artesão utilizando materiais recicláveis.
Segue abaixo matéria publicada pelo Portal T5 por Vitor Feitosa
“Eu trabalhava em dois lugares, fim de semana em Caxias e no meio da semana trabalhava na Av. Brasil. Mas aí teve um domingo, no último dia de maio de 2009, eu vinha às 18h, e quando passei debaixo do viaduto da Linha Vermelha escutei um tiroteio. Daí adiantei as pedaladas para sair daquele meio todo, e quando enrolei para pegar uma reta e ir para casa, senti o impacto. Não senti dor, só impacto nas costas, mas também parei de pedalar no mesmo instante. Ali mesmo eu fiquei, comecei a perder as forças. Deu um derrame pleural, porque já que teve só a entrada do projétil, o sangue ficou dentro”, explica.
Antes de ser confirmada a deficiência que acabou mudando completamente a sua vida, no entanto, houve ainda um episódio que testou a fé do artesão, que hoje faz parte da Igreja Adventista do Sétimo Dia, religião de orientação cristã protestante e caracterizada por guardar os sábados como dia de descanso.
egundo Joselito, depois de ser atingido com o disparo de arma de fogo seu corpo passou a não responder mais. Não conseguia mexer braços e nem pernas, e mal podia gritar por socorro. Uma pessoa que passava na rua, no momento, ainda se aproximou dele para tentar ajuda-lo, mas acabou também sendo baleada no braço e correu na mesma hora. Só restava a ele então esperar pela morte.
E ela veio, mas veio lenta, caminhando a passos curtos, e ao chegar no meio do caminho decidiu recuar. O paraibano conta que após a bala perdida, só acordou quando seu corpo já estava dentro do necrotério. Como ele não reagia, havia sido dado como morto.
“Eu tinha a certeza de que já não tinha mais volta para mim e iria morrer, aí entreguei minha vida a Deus. Quando acordei, já estava dentro do saco, na sala dos cadáveres. Eu não conseguia respirar e nem falar, não podia me mexer, devido à gravidade. Estourou a vértebra esquerda, uma veia do pulmão e a costela, e ficou alojada. Quando o maqueiro foi fechando o saco, na altura da coxa, eu simplesmente olhei para ele, já que não conseguia fazer nada. Ele me largou lá e correu. Imagina o meu desespero, que eu olhei ao redor da sala e só havia cadáveres, tudo aberto lá. Me deram como morto”, diz emocionado ao lembrar-se.
A partir de então Joselito foi transferido para o hospital e ficou internado por mais de três meses, até que descobriu que ficaria sem o movimento das pernas. Para quem viu a morte de perto, entretanto, o que viesse depois dali seria lucro.
Mal podia ele imaginar que, apenas dois anos mais tarde, descobriria o seu maior prazer atual: o artesanato, algo que saiu de uma simples diversão para virar trabalho e o faz esquecer dos problemas da nova vida que lhe foi dada.
Eu tinha a certeza de que já não tinha mais volta para mim e iria morrer, aí entreguei minha vida a Deus
Joselito Dantas, artesão
Artesanato com materiais recicláveis
O modelo de artesanato do sapeense, na realidade, é diferente do que a maioria das pessoas conhece. Joselito utiliza materiais recicláveis, como tampinhas de garrafa pet, potes e garrafas de plástico para fabricar bonecos de brinquedo. São palhacinhos e robôs bastante simpáticos, que viraram a sua marca registrada.
Apesar de serem feitos a partir de materiais descartados no lixo e que aparentemente não têm utilidade alguma, o artesão não faz a coleta ele mesmo, até pelas limitações físicas. Toda a matéria prima para confecção dos bonecos é comprada em um depósito de material reciclável em João Pessoa. E dentre tudo que é necessário para fabricar um palhacinho, os únicos objetos não sustentáveis são a cabeça e o elástico que fica por dentro, os quais ele compra por fora.
Segundo Joselito, ao menos na Paraíba, não há nenhuma arte semelhante à dele, o que demonstra certa originalidade. Mas tudo começou por acaso. “Em 2011 após o acontecimento que houve comigo no Rio, voltei para a Paraíba. Fui morar em Mari, e lá conheci o bonequinho, que foi uma pessoa aqui mesmo de João Pessoa que levou para mim. Só que ele era todo sem forma, feito só por fazer mesmo. Daí eu achei interessante. Na época eu era pedreiro, e não podendo exercer mais a minha função, passei a desenvolver algumas coisas para não ficar sem fazer nada. Eu conheci esse palhacinho, achei interessante e quis fazer um para ver como é que ia ser”, relata.
Hoje, o artesanato sustentável é o ganha-pão do paraibano. Há dois anos, ele também fez um curso de transcrição de braile, mais ainda não teve a oportunidade de trabalhar com isso. Já sua esposa, Josenilda, atua como intérprete de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), estando desempregada no momento. Por isso, o casal se dedica a divulgar cada vez mais a arte, participando de feiras de artesanato e publicando o trabalho nas redes sociais.
Sobre o trabalho em si, Joselito tem uma oficina improvisada em casa, onde guarda todo o material utilizado na fabricação e as ferramentas de que necessita, especialmente uma furadeira, com a qual fura as tampinhas. “Eu não trabalho todos os dias, tiro apenas um dia na semana para produzir, já que, pela cadeira de rodas, é muito cansativo para mim”, ressalta ele.
O tempo de produção é curto. Um bonequinho simples, por exemplo, demora menos de 20 minutos para ser confeccionado, sendo que, nos dias em que está mais inspirado, o artesão consegue produzir até cinco palhacinhos em uma hora de trabalho. Já aqueles bonecos mais complexos podem demorar até três horas para serem finalizados.
Como trabalha com vendas sob encomenda e com “pacotes” com uma certa quantidade de bonecos, o ganho mensal de Joselito é incerto. Os palhacinhos e robôs costumam partir de R$ 5,00, tendo o preço definido com base na complexidade da produção. “Com relação à renda, varia muito com as vendas. Tem mês que, por mais que pareça, eu não consigo vender um sequer, e tem mês que consigo descolar legal, e aí não tenho uma base mensal”, conta.
Apesar da incerteza ao final do mês, a maior dificuldade quando se é artesão talvez seja a valorização do trabalho, como ele mesmo destaca. “É um pouco difícil porque as pessoas não dão muito valor ao material reciclável, que vem do lixo. Aí muitos acham que era para ser mais barato ou até de graça. Mas tem todo um custo, porque tudo é comprado. Por mais que seja tirado do lixo, poucas pessoas me dão, a maioria eu compro”.
Entre tantos problemas e obstáculos superados durante os 35 anos de vida, Joselito sabe que, mesmo com o talento recebido através de suas mãos “mágicas”, a gratidão pela vida ainda permanece sendo a sua maior qualidade. “Obrigado Deus por me conceder mais um dia, pela vida e por todas as oportunidades”, escreveu ele em seu perfil no Facebook, em uma foto com a equipe da Rede Tambaú de Comunicação que foi até sua casa entrevista-lo.”
CONTATO JOSELITO DANTAS:
Tel: 83-99363-9492
What: 83-99926-5940
Insta: @artesao_joselito
www.facebook.com/joselito.dantas4
Da Redação com matéria do Portal T5
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