Diagnóstico e prevenção aumentam chances de cura, mas médicos divergem sobre idade ideal de início dos exames.
Mamografia é o principal exame para o diagnóstico precoce do câncer de mama — Foto: GloboNews
O câncer de mama é que o mais atinge as mulheres em todo o mundo, segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde). A estimativa é que uma a cada oito mulheres possa desenvolver a doença, a causa mais frequente de morte por câncer na população feminina.
Há consenso na comunidade científica mundial sobre a importância do diagnóstico precoce – cerca de 90% dos tumores de mama são curáveis se descobertos no início. A questão é: quando e de que forma deve ser iniciado o rastreamento?
No Brasil, o Ministério da Saúde e o INCA (Instituto Nacional do Câncer), recomendam a realização de mamografias a cada dois anos partir dos 50 anos – a França segue a mesma indicação. A Sociedade Brasileira de Mastologia indica o exame a partir dos 40 anos. A detecção precoce é fundamental, explica o mastologista Paulo Roberto Alcântara Filho, médico do renomado hospital Sírio Libanês, em São Paulo, mas o estresse que envolve a realização dos exames também é tema de um grande debate entre especialistas.
“Quando se está fazendo o rastreamento, as mulheres muitas vezes são submetidas a um estresse desnecessário. Não significa que ele não deva ser feito, pelo contrário, tem que ser feito, mas de uma forma bastante racional, porque muitas vezes você acaba trazendo um estresse para a paciente que não é bem-vindo”, diz o mastologista, lembrando que a carga emocional é um fator de risco para esse e outros cânceres.
Pesquisas mostram que exames para detecção do câncer de mama devem começar entre 40 e 50 anos de idade — Foto: Pixabay
A discussão sobre a idade ideal do início dos exames é frequentemente abordada pelos especialistas no Brasil e outros países, principalmente desenvolvidos. De acordo com o especialista brasileiro, ainda há muitas dificuldades em definir qual o melhor momento para iniciar as mamografias, que é comprovadamente o único exame que reduz a mortalidade pelo câncer de mama.
“Há muitos estudos mostrando que entre os 40 e 50 anos já se deve começar o rastreamento, porque nessa idade já existe uma incidência maior do câncer de mama. O grande problema nessa faixa etária entre 40 e 49 anos é que muitas dessas mulheres ainda têm ciclos menstruais, em fases ativas de menstruação. Ou seja, têm um estimulo hormonal mensal que faz com que as mamas sejam mais densas também. Isso dificulta muito o diagnóstico por mamografia”, detalha o médico brasileiro. É relativamente comum por exemplo, encontrar nódulos que são, na maior parte dos casos, benignos.
Ao mesmo tempo, a detecção precoce de um tumor maligno salva vidas e permite que o tratamento seja menos radical, tanto do ponto de vista cirúrgico, como da necessidade de Quimioterapia, ressalta. A mamografia não é recomendada antes dos 30 anos. Geralmente os ginecologistas e mastologistas acabam fazendo ultrassom de mamas em mulheres mais jovens, apesar de não ser um exame de rastreamento.
“Recebo muitas pacientes que fizeram mamografia entre 20 e 30 anos, mesmo não tendo qualquer risco aumentado por questão hereditária. São exames mal indicados mesmo. Mais importante é a mulher se conhecer desde jovem e receber uma primeira orientação médica. Certamente detectaríamos mulheres que poderiam iniciar métodos de rastreamento personalizados para sua idade e seu risco familiar”, ressalta o mastologista brasileiro.
A medicina deve ser, desta forma, cada vez mais personalizada, apesar do estabelecimento de diretrizes para o rastreamento populacional ser fundamental. É essencial identificar pacientes, por exemplo, que possuam uma mutação genética específica, que aumenta as chances de desenvolver um câncer de mama ainda jovem – na maioria das vezes antes mesmo da idade de rastreamento preconizada para a população geral. São situações raras, mas essas pacientes precisam de um monitoramento frequente e precoce. “Muitas vezes essas pacientes só são identificadas quando já estão doentes”, lamenta Paulo Alcântara. Esses casos representam apenas entre 8 e 10% dos diagnósticos, mas o acompanhamento deve ser iniciado entre 20 e 30 anos.
Médicos indicam que as mulheres façam exames de toque para evitar o câncer de mama — Foto: Unsplash
Para a presidente da associação francesa Cancerdusein.org, Sandrine Fauchon, uma das mais importantes do país, as mulheres devem se habituar a se apalpar e mostrar os seios para os médicos uma vez por ano desde cedo, independentemente da realização de uma mamografia. “As mulheres têm o hábito de fazer um papanicolau todos os anos, mas esse reflexo infelizmente não existe com o câncer do seio”, diz.
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